Jovem Pan > Saúde > Por que atletas saudáveis morrem subitamente? A resposta pode estar no coração

Mais do que performance, o preparo físico pode ser a chave para salvar vidas dentro e fora das competições

  • Por Brazil Health
  • 08/04/2025 14h37

JEAN-PHILIPPE KSIAZEK/AFP

O jogador camaronês Marc-Vivien Foé morreu após sofrer um infarto em campo, em jogo contra a Colômbia, em 2003

A morte súbita no esporte é um evento raro, porém dramático e inesperado, que afeta atletas de várias modalidades. Ainda assim, pode ser prevenida com estratégias adequadas, sendo o treinamento cardiovascular a medida mais importante para essa prevenção. Definimos a morte súbita no esporte como a morte inesperada de um atleta durante ou logo após a prática de atividade física. Ela ocorre devido a doenças cardíacas não diagnosticadas, como cardiomiopatias, arritmias ou malformações do coração, como a origem anômala de artérias coronárias, que podem ser agravadas pelo exercício físico intenso.

Um artigo recente publicado no Journal of the American College of Cardiology analisou dados da National Collegiate Athletic Association (NCAA), que reúne atletas universitários dos Estados Unidos com idades entre 17 e 24 anos. A pesquisa revelou que a morte súbita cardíaca é a principal causa médica de óbito nesse grupo, com uma taxa de 1,9 casos para cada 100 mil anos-atleta — uma métrica usada para medir o risco ao longo do tempo em populações esportivas.

Por outro lado, a incidência de morte súbita é maior em atletas mais velhos, acima de 35 anos, em comparação com os mais jovens, sendo o infarto a causa mais prevalente.

Como o treinamento cardiovascular protege o coração

O treinamento cardiovascular é essencial para a saúde do sistema cardiovascular e ajuda na prevenção da morte súbita em atletas por meio do aumento da capacidade aeróbica, ou seja, a capacidade de realizar exercícios por longo tempo, o que reduz a pressão sobre o coração e os vasos sanguíneos durante os esforços físicos.

Além disso, auxilia na prevenção e tratamento de doenças como hipertensão, diabetes e colesterol elevado, que por sua vez contribuem para outra doença chamada aterosclerose. Esta, caracterizada pelo acúmulo de placas de gordura nas artérias, pode levar ao infarto agudo do miocárdio e ao acidente vascular cerebral (AVC), conhecido como derrame.

Outro benefício está no fortalecimento do coração. O treinamento aumenta a eficiência do bombeamento cardíaco, tornando o fornecimento de oxigênio aos músculos mais eficaz, além de reduzir a ocorrência de arritmias durante o esforço.

Avaliação médica e prevenção são fundamentais

Alguns exames complementares são importantes para atletas, como o eletrocardiograma, o teste de esforço (preferencialmente o teste ergoespirométrico) e o ecocardiograma, que é um ultrassom do coração. A ressonância magnética cardíaca também pode ser útil quando o ecocardiograma não fornece resultados conclusivos. Esses exames ajudam na detecção de condições cardíacas que poderiam levar à morte súbita, além de identificar arritmias ou anomalias estruturais que, sem tratamento, poderiam ser fatais.

É essencial que esse monitoramento seja periódico — geralmente anual — ou feito ao surgimento de sintomas como cansaço excessivo, palpitações, dores no peito, queda de rendimento, entre outros.

A adaptação gradual do treino também é crucial para evitar a sobrecarga do sistema cardiovascular e permitir evolução segura no treinamento. Antes de iniciar programas intensivos, os atletas devem realizar exames médicos completos, incluindo testes de esforço e monitoramento cardíaco, para identificar riscos ocultos. Isso é especialmente importante para atletas jovens e amadores.

Treinamentos muito intensos e sem supervisão podem aumentar o risco de eventos adversos. O acompanhamento de profissionais de saúde durante o treinamento pode prevenir esses problemas e auxiliar na adaptação ao esforço físico.

Concluindo, devemos ter em mente que a prevenção da morte súbita em atletas está baseada não apenas em treinamento e exames preventivos, mas também em medidas educativas direcionadas a treinadores, equipe médica, staff e aos próprios atletas. A saúde e o bem-estar devem estar em primeiro lugar, antes das medalhas, títulos e pódios.

André Moro, MD, PhD
CRM/SP 90.486 RQE 99.666 / 99.667
Doutor em Cardiologia pela Unesp

  • Tags:
  • arritmia, AVC, Brazil Health, coracao, doenças cardíacas, exercício físico, exercícios físicos, infarto

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