Jovem Pan > Opinião Jovem Pan > Comentaristas > Bia Garbato > Mestre-cuca, eu? A arte de não saber cozinhar

Quem sou eu na fila do pão caseiro?

  • Por Bia Garbato
  • 27/03/2025 08h00

senivpetro/Freepik

Mulher prepara refeição na cozinha

Não vou te enrolar: não gosto de cozinhar. Eu podia completar a frase dizendo: “…mas eu me viro”. Ou: “Detesto fazer arroz e feijão, mas preparar uma moqueca no fim de semana é uma terapia”. Ou ainda: “Gosto mesmo é de fazer churrasco, mas aí não é comida, é arte”. Nenhum desses é meu caso. Eu não gosto de cozinhar, não sei cozinhar e tenho raiva de quem acha que eu devo aprender a fazer uma omelete facílima de preparar.

Meu problema todo é paciência. Na verdade, a falta dela. Por exemplo, não tenho saco para esperar o forno preaquecer. Como é que olhar um espaço iluminado e vazio pode se chamar culinária? Outra: não suporto ter que adivinhar quando o bolo está pronto. Uma das razões é que as instruções são incoerentes: me dizem para enfiar um palito para ver se está bom, mas, ao mesmo tempo, não pode abrir o forno para o bolo não “solar”. Como resolve esse enigma, Rita Lobo?

Admito que a airfryer é uma mão na roda, especialmente para pessoas como eu. Mas tem um pormenor que me atormenta: ter que virar, por exemplo, as asinhas de frango. A questão é a falta de obediência: enfio o garfo numa delas e viro. Quando estou indo pra próxima, só de sacanagem, a primeira desvira e volta pro mesmo lugar. Imagina fazer isso em 12 pequenos pedaços de frango. Então, aposto nas obedientes e desencano das safadas. Resultado: ficam cruas embaixo. Ainda na onda da proteína, fritar bife é outro desafio. Meu filho gosta do medalhão malpassado. A princípio, me parece uma vantagem, já que não tenho que ficar muito tempo na frente do fogão. Ledo engano. Depois de colocar o steak na frigideira, começo a ter uma mini crise de ansiedade para descobrir o momento certo de tirá-lo. Claro que não acerto, e ele sai tostado ou mugindo.

Macarrão é fácil, né? Se chamar de massa, então, sou promovida de preguiçosa a sous-chef na hora. Só que costumo me perder no primeiro passo. Acompanha: pego a panela, encho d’água, coloco no fogo, jogo um salzinho grosso, mexo com a colher de pau e faço o quê? Vou arrumar meu quarto. Quando os sapatos estão todos no lugar, meu estômago ronca, arregalo o olho e me dou conta que esqueci completamente que é hora do jantar. Corro pra cozinha e encontro uma panela com meio centímetro de água. Jogo da vida: volte uma casa. Ainda sobre carboidratos: evitar pra emagrecer é uma coisa, não gostar de um bom carbo é desvio de caráter. Vou falar daquele prato que dizem que é muito fácil, mas precisa de uma paciência monástica pra fazer: o risoto. Ouço dizer que é um prato social, para cozinhar tomando um vinho e conversando com os amigos. Acho ótimo, desde que eu faça parte dos amigos.

Dizem que quem cozinha não lava. Por mim, sem problemas. Eu monto uma máquina de lavar louça que é uma beleza. Lavo uma loucinha com o pé nas costas, pois, afinal, esfregar uma tábua de cortar salsinha não se compara ao prazer de comer uma bela feijoada.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

  • Tags:
  • Bia Garbato, bife, churrasco, comida, cozinhar, gastronomia, macarrão

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