Jovem Pan > Opinião Jovem Pan > Comentaristas > Ricardo Motta > Imóvel rural: não basta ser dono; é preciso estar regularizado
A regularização fundiária, quando feita com planejamento e orientação qualificada, deixa de ser um desafio e passa a ser uma solução estratégica
- Por Ricardo Motta
- 12/04/2025 06h06 – Atualizado em 12/04/2025 14h04
Freepik/ aleskrivec
Regularizar um imóvel rural é cuidar de um patrimônio que representa história, investimento e potencial
A regularização de imóveis rurais é uma tarefa muitas vezes adiada, mas cada vez mais necessária. Trata-se de um processo técnico, sim. Mas, acima de tudo, é uma escolha estratégica. Regularizar não é apenas uma exigência documental. É garantir segurança, viabilidade e liquidez a um patrimônio que representa valor real, seja para uso pessoal ou como ativo de negócios.
É comum que o tema seja visto como algo restrito a grandes propriedades ou empresas do agronegócio. Mas a realidade é outra. Pequenos e médios proprietários enfrentam os mesmos riscos jurídicos quando mantêm seus imóveis em situação irregular. A diferença está no impacto: nesses casos, o prejuízo pode ser ainda maior, pois recai diretamente sobre o patrimônio pessoal e familiar.
Georreferenciamento e INCRA: o primeiro passo
A ausência de georreferenciamento e de certificação junto ao INCRA é uma das principais barreiras à regularização. Sem essas etapas, o imóvel permanece com registro precário, sem validade plena para alienação, financiamento ou aproveitamento econômico.
O processo envolve a medição precisa da área e a atualização da matrícula junto ao cartório de registro de imóveis. Não se trata de um simples desenho técnico, mas da formalização da posição jurídica da propriedade no território nacional. Sem isso, o risco de sobreposição com imóveis vizinhos e disputas de limites aumenta consideravelmente, podendo travar qualquer transação.
Com relação a regularização perante o INCRA, é de suma importância o cadastro da área no Sistema Nacional de Cadastro Rural (SNCR), com a emissão do Certificado de Cadastro de Imóvel Rural (CCIR), documento essencial para qualquer transação ou financiamento imobiliário rural.
Titularidade e Posse: Quem é o Dono?
A regularidade da titularidade é outro ponto crítico. São frequentes os casos em que imóveis foram herdados, adquiridos informalmente ou ocupados há décadas sem o devido registro. Em contextos urbanos, isso já é preocupante. No meio rural, pode significar a impossibilidade de qualquer operação econômica.
Analisar a matrícula, investigar a cadeia dominial, identificar eventuais registros sobrepostos e esclarecer situações de posse é etapa indispensável. Não basta ter a terra na prática. É preciso ter a propriedade reconhecida no papel, sob pena de o direito não ser exercido com segurança.
Importante notar que a legislação atual prevê a possibilidade de regularização de áreas rurais via usucapião extrajudicial que pode ser um caminho rápido, eficaz e menos custoso para quem detém a posse prolongada do imóvel, ou de parte dele, sem um registro formal.
Regularidade ambiental: segurança para usar e preservar
A legislação ambiental brasileira impõe regras claras para a manutenção de Áreas de Preservação Permanente (APPs), reserva legal e inscrição no Cadastro Ambiental Rural (CAR). Ignorar essas exigências é comprometer o uso da área, abrir espaço para sanções administrativas e até bloqueios judiciais.
Muitas vezes, os proprietários desconhecem as obrigações legais ou mantêm passivos ambientais sem saber. Trabalhar em parceria com profissionais da área ambiental e com o suporte técnico-jurídico adequado é o caminho mais seguro para adequar a propriedade, prevenir autuações futuras e, em muitos casos, viabilizar inclusive o acesso a linhas de financiamento público e certificações de sustentabilidade.
Contratos Rurais: Cláusulas Desatualizadas Custam Caro
Muitos imóveis rurais são objeto de arrendamentos, parcerias, comodatos ou outras formas de cessão. Quando esses contratos não refletem as práticas atuais ou se apoiam em modelos ultrapassados, o risco é alto. As consequências variam desde disputas judiciais até a perda de direitos ou garantias.
Revisar cláusulas, reavaliar prazos e atualizar termos contratuais conforme a legislação vigente é uma medida que fortalece a relação entre as partes e protege juridicamente o imóvel. Especialmente em contextos familiares ou de sucessão patrimonial, essa medida simples pode evitar longas batalhas judiciais que drenam tempo, dinheiro e vínculos.
Outro ponto relevante é manter o imóvel regular fiscalmente, sempre verificando eventuais débitos incidentes sobre ele, como o Imposto Territorial Rural (ITR), assegurando emissão de certidões negativas essenciais para futuras negociações.
Como o jurídico torna a regularização possível
A boa notícia é que a regularização é possível. Por mais complexas que sejam as pendências, é plenamente viável construir um plano de regularização jurídica eficaz, com etapas bem definidas e suporte técnico adequado. O segredo está na abordagem preventiva, criteriosa e multidisciplinar.
Contar com assessoria jurídica especializada, realizar uma análise completa do imóvel e organizar a documentação são os primeiros passos. Em muitos casos, o simples ordenamento das informações já permite dar início a processos administrativos e judiciais que destravam o registro, permitem a certificação ou regularizam a titularidade.
Se necessário, a atuação pode ser viabilizada com o apoio de escritórios externos ou profissionais técnicos contratados para ações específicas, como a elaboração de peças cartográficas, a regularização ambiental ou a mediação em conflitos de posse.
Regularização fundiária: valorização e preservação do patrimônio rural
Imóveis rurais regularizados são ativos valorizados. Podem ser financiados, vendidos, utilizados em operações de crédito ou integrados com segurança a planos de expansão. Mas mais do que isso: são ativos protegidos contra disputas, passivos ocultos e entraves operacionais.
Regularizar um imóvel rural é mais do que cumprir a lei. É cuidar de um patrimônio que representa história, investimento e potencial. É garantir que ele possa ser usufruído em sua totalidade, com segurança jurídica e liberdade de uso.
A regularização fundiária, quando feita com planejamento e orientação qualificada, deixa de ser um desafio e passa a ser uma solução estratégica. E é isso que todos os proprietários, independentemente do porte da área, merecem: tranquilidade, segurança e valor reconhecido sobre aquilo que é seu.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.