Jovem Pan > Saúde > Associação denuncia falhas no atendimento de retinopatia diabética pelo SUS

Vanessa Pirolo aponta filas de mais de dois anos para tratamento e uso incorreto de medicamentos que pode agravar os quadros

  • Por Renata Rode (colaboração para a Jovem Pan)
  • 13/05/2025 00h00

Divulgação

Vanessa Pirolo, presidente da Vozes do Advocacy

A retinopatia diabética é uma das principais complicações do diabetes e pode levar à perda da visão se não tratada adequadamente. Segundo protocolos clínicos e diretrizes do Ministério da Saúde, o tratamento deve incluir pelo menos oito aplicações do medicamento Anti-VEGF no primeiro ano após o diagnóstico. No entanto, dados do DataSUS e obtidos via Lei de Acesso à Informação apontam que esse tratamento completo raramente é realizado.
“O que temos visto é um subtratamento generalizado. As pessoas são diagnosticadas, recebem a promessa de tratamento, mas não são acompanhadas conforme orientações médicas. O resultado disso é o desperdício de dinheiro público e o agravamento da saúde da população”, denuncia Vanessa Pirolo, presidente da Vozes do Advocacy.

O Vozes do Advocacy é um conglomerado que reúne vinte e cinco associações e dois institutos de todo o Brasil, que integram a Federação de Associações e Institutos de Diabete e Obesidade, unidos em prol das causas do Diabetes, da Obesidade e de suas complicações. “Visamos ampliar o acesso ao diagnóstico e ao tratamento, além de promoção de políticas públicas, que protejam e amparem essas populações. Infelizmente, as filas de mais de dois anos para atendimento oftalmológico e uso incorreto de medicamentos agravam a situação de milhões de brasileiros com diabetes”, declara a diretora.

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Em entrevista exclusiva ao Portal Jovem Pan, a entidade afirma que, apesar da disponibilidade de medicamentos pelo Governo Federal, os estados não estão aplicando os protocolos corretamente, desperdiçando recursos públicos e colocando pacientes em risco de cegueira. “A fila para atendimento com oftalmologistas pelo SUS ultrapassa dois anos em alguns estados, como mostrou a resposta do Governo do Estado de São Paulo a um pedido via Lei de Acesso à Informação. Com esse gargalo, muitos pacientes não conseguem sequer iniciar o tratamento antes de sofrerem danos irreversíveis à visão”.

Pesquisa demonstra gravidade do cenário

A situação é ainda mais preocupante quando se observa os dados da mais recente edição do Radar Nacional do Diabetes, pesquisa realizada pela Vozes do Advocacy com 1.843 pessoas em todo o país. O levantamento revelou que 30% dos pacientes apresentaram descontrole glicêmico; 42% não sabem ou não lembram o último resultado de exame de glicemia; 12% relataram retinopatia diabética; 32% têm neuropatia; 25% enfrentam doenças cardiovasculares; 23% sofrem com disfunções sexuais associadas à doença e 10% têm nefropatia ou lesões nos pés.
“Grande parte dessas complicações poderiam ser evitadas com acesso regular a especialistas e um acompanhamento contínuo. Mas o que vemos são filas intermináveis, falta de capacitação na atenção básica e um sistema que não conversa entre os diferentes níveis de cuidado”, declara a presidente. E continua: “É preciso cobrar urgência na implementação de políticas públicas efetivas, com foco em diagnóstico precoce, capacitação dos profissionais da saúde e a correta aplicação dos protocolos clínicos existentes. Eu, que tenho diabetes há 24 anos me sinto indignada ao perceber tais dificuldades”.

Uma luta em constante evolução contra a doença

A porta-voz enumera avanços conquistados ao longo dos anos através de denúncias e notificações. “Desde 2021, quando o projeto ganhou corpo, envolvendo 27 organizações de diabetes, conseguimos incorporar a insulina análoga de ação prolongada no SUS; denunciamos a falta de medicamentos e insumos para a Secretarias de Saúde assim que as pessoas com diabetes notificam as organizações e se caso as autoridades não tomarem as iniciativas, denunciam nos meios de comunicação”.

Vanessa pontua vitórias conquistadas pela união de diversas associações: “Tivemos ganhos dentro da Anvisa com relação ao projeto de precisão dos glicosímetros, implantamos o Dia D de vacinação para pessoas com diabetes, capacitamos mais de 2000 profissionais de saúde do SUS para tratar pessoas com diabetes; iluminamos o Senado e a Câmara dos Deputados com projeções para o Dia Mundial do Diabetes e já sensibilizamos mais de 20 parlamentares no país sobre a doença, mas é preciso mais”, ressalta.

Um dos principais problemas se refere ao início do tratamento: “A maioria das pessoas com diabetes é tratada pelo clínico geral. O tempo de espera pelos especialistas é imenso e o tempo de consulta é de 15 minutos no SUS. Além disso, a falta de capacitação dos profissionais de saúde em diabetes e a espera interminável pelo tratamento em si colaboram para o caos”.

E finaliza: “Os Municípios deveriam criar capacitações em diabetes para as populações e o Governo Federal deveria ter um mecanismo para não faltar medicamentos e insumos no país, os profissionais de saúde deveriam receber capacitações periódicas em diabetes. As organizações da sociedade civil poderiam ajudar o poder público nestas capacitações, ou seja, a informação é um dos caminhos mais viáveis para a mudança de status”.

  • Tags:
  • Diabetes, retinopatia

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