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Interlocutores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disseram à coluna que a inclusão do tema anistia na nota em que divulgou seu estado de saúde foi interpretada como um “último comando”, caso algo mais grave ocorra com ele durante a cirurgia.
Na nota que anuncia o complexo procedimento, Bolsonaro faz um apelo ao Congresso para que a anistia aos presos do 8 de Janeiro seja aprovada pelo Parlamento. Ele menciona o caso da cabeleireira “Débora do Batom” como exemplo para sensibilizar deputados e senadores a aprovarem a “descondenação” dos golpistas.
“Modular a pena da Débora (Batom), passando de 14 para 10 anos de prisão, continua sendo uma brutal injustiça, já que seu crime é impossível (…) Deus ilumine cada um dos 513 deputados e 81 senadores em seus votos. Se com nossas decisões pavimentamos a nossa eternidade, esse voto tem um peso capital”, escreveu o ex-presidente.
Débora Rodrigues foi condenada a 14 anos de prisão pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, por participar da invasão dos prédios dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023. Ela escreveu com um batom a frase “Perdeu, mané” na estátua A Justiça, que fica em frente ao prédio da Corte. O caso é explorado como um símbolo pelos bolsonaristas, que consideram a pena um exagero de Moraes. A anistia também pode beneficiar, contudo, a cadeia de comando do ato golpista, incluindo o próprio Bolsonaro e a cúpula militar do seu governo.
Embora otimistas quanto ao sucesso da cirurgia, aliados mais próximos de Bolsonaro demonstram preocupação devido à complexidade do procedimento de laparotomia exploradora. Dizem que Bolsonaro não se hidrata, não faz exercícios físicos e lembram que sua alimentação não é saudável.
Recuo de Gleisi
O recuo da ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) na defesa da discussão da anistia pelo Congresso provocou ainda mais insatisfação dos bolsonaristas com o Supremo.
Segundo o blog da jornalista Andréia Sadi, ministros do Supremo não gostaram do comentário da ministra, que soou como apoio do Planalto —o que teria motivado um recuo em sua posição.
A expectativa do PL é que o tema seja pautado após a Páscoa, quando presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), retorna de uma viagem de férias com a família nos Estados Unidos. Embora o feriado da Páscoa seja de 18 a 21 de abril, o político viajou na última sexta-feira, em mais uma agenda internacional desde que assumiu em fevereiro.
Reportagem
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